Vasculho entre sombras e vultos do presente. Tento observar
o próximo passo entre o nevoeiro de Novembro. Esta agonia, profunda e sem
significado aparente acompanha-me (quase que) permanentemente. Crio um
imaginário surreal, perseguindo os desejos a que o corpo obriga e perdendo
partes, de mim, pelo caminho, como se de algodão fosse feito o organismo do ser
humano.
Celebrei o nascimento de um alter-ego. Essa extensão de mim
encontra, na sua sobrevivência cósmica uma tranquilidade eterna. É um ser
fictício, criado por extensão da alma e do coração. Ele funde-se com um outro
ser, ainda por descobrir e é feliz, sem uma única questão ficar por responder,
um carinho por dar ou uma saudade por revelar.
Não pertenço a ninguém, acredito até que nunca pertenci.
Todos os amores, sabores e dissabores passados foram outrora uma extensão de
mim, de uma forma singular e incompleta. Necessito de uma força superior gerada
por um enorme coração com a força de surpreender e cuidar. Necessito não de uma
extensão daquilo que sou, ou do que virei a ser. Preciso de uma metade
perfeita, sem farpas e efemeridade.
Enquanto o futuro não me entrega o que está reservado e é
meu por direito, crio imagens imaginárias onde sou (ainda) mais feliz. O meu
alter-ego não sofre, ele ajuda-me em momentos como estes, de solidão. Ele
escreveu este texto, palavra por palavra, porque sabe mais sobre mim do que eu
alguma vez saberei.
A verdade esconde-se no inconsciente, deixando o significado
de tudo o que precisa fazer sentido fora da equação. Para me fazer sofrer? Não.
Para não ter de me ferir com a verdade. A verdade em que ambos acreditamos é
que nada prova a existência de um ser perfeito.
Criamos o presente, planeamos o futuro, recordamos o
passado. Lutamos contra a ordem natural do universo, mas na verdade, nunca
seremos verdadeiros com nós mesmos. Uma parte do que somos oculta e camufla
aquilo que nos fere, as verdades ásperas e o facto do futuro ser certamente incerto.