sábado, 30 de novembro de 2013

Alter-ego



Vasculho entre sombras e vultos do presente. Tento observar o próximo passo entre o nevoeiro de Novembro. Esta agonia, profunda e sem significado aparente acompanha-me (quase que) permanentemente. Crio um imaginário surreal, perseguindo os desejos a que o corpo obriga e perdendo partes, de mim, pelo caminho, como se de algodão fosse feito o organismo do ser humano.

Celebrei o nascimento de um alter-ego. Essa extensão de mim encontra, na sua sobrevivência cósmica uma tranquilidade eterna. É um ser fictício, criado por extensão da alma e do coração. Ele funde-se com um outro ser, ainda por descobrir e é feliz, sem uma única questão ficar por responder, um carinho por dar ou uma saudade por revelar.

Não pertenço a ninguém, acredito até que nunca pertenci. Todos os amores, sabores e dissabores passados foram outrora uma extensão de mim, de uma forma singular e incompleta. Necessito de uma força superior gerada por um enorme coração com a força de surpreender e cuidar. Necessito não de uma extensão daquilo que sou, ou do que virei a ser. Preciso de uma metade perfeita, sem farpas e efemeridade.
Enquanto o futuro não me entrega o que está reservado e é meu por direito, crio imagens imaginárias onde sou (ainda) mais feliz. O meu alter-ego não sofre, ele ajuda-me em momentos como estes, de solidão. Ele escreveu este texto, palavra por palavra, porque sabe mais sobre mim do que eu alguma vez saberei.

A verdade esconde-se no inconsciente, deixando o significado de tudo o que precisa fazer sentido fora da equação. Para me fazer sofrer? Não. Para não ter de me ferir com a verdade. A verdade em que ambos acreditamos é que nada prova a existência de um ser perfeito.

Criamos o presente, planeamos o futuro, recordamos o passado. Lutamos contra a ordem natural do universo, mas na verdade, nunca seremos verdadeiros com nós mesmos. Uma parte do que somos oculta e camufla aquilo que nos fere, as verdades ásperas e o facto do futuro ser certamente incerto.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Rascunho sentimentalista


Há noites bem mais longas que o dia. Há noites que se estendem por um período de tempo incalculado, equiparadas à eternidade. 
Não importa a temperatura do meu corpo, não importa a rigidez do olhar ou o pulsar do coração. Tenho uma estaca de gelo que o atravessa. Sinto a dor, provocada por algo, ou alguém, inexistente.

O fumo de um sentimento apodera-se de mim, nestas noites, polui a mente, o pensamento e deixa-me só, perdido na ilusão do que poderia ser o futuro, se o estivesse disposto a viver.
Sou infiel, desonesto e desleal comigo mesmo. Sofro sem razão, perco-me num imenso vácuo que ocupa tudo em mim e que se estende a estas noites, eternas e cruéis. 

Não pode existir saudade, convenço-me. A verdade é que sinto, sinto uma saudade de algo inexistente. Fui feliz, sou feliz. Fui incompleto, sou incompleto. Serei, eternamente, incompleto?

Talvez obtenha uma resposta, quando encontrar um fim para estas noites eternas, frias e cruéis.



domingo, 11 de agosto de 2013

Apus, a ave-do-paraíso.

O órgão pesado que carrego ao peito sofre com os amanheceres solitários e, a cada dia que passa, descobre que o amor se escondeu, na linha do horizonte há estações atrás. A luz incandescente cegou o corpo, atordoou a alma e fez esquecer a sensação de sentir, profundamente, um toque, um respirar, um palpitar, forte, fraco, desaparecido. 
No que tem sido uma procura por mim mesmo, desde que me lembro de ter acordado emocionalmente, conciliei estágios distintos que nunca pensei provar. 

O estágio do amor foi parcialmente iniciado, parcialmente descoberto, completamente e parcialmente sentido, vivido, desvanecido, esquecido. O pedaço complexo que carrego ao peito sofre com os dias frios, é Dezembro. Cá fora é quente. O corpo é sempre quente. O desejo é quente. Tudo o resto é tépido. 

As madrugadas são frias, menos frias, mornas quando o amor se deita ao meu lado. Há tanto, numa medida incalculável para descobrir acerca deste sentimento traiçoeiro. Há demasiado para descobrir.
Tenho medo. A descoberta implica sofrimento. A descoberta exige amar. Amar é a única forma, é a única forma de descobrir algo que nunca será descoberto. 

A cada madruga acrescento um suspiro a uma caixa imaginária, suspiro esse que seria projectado na personificação do amor que madrugasse ao meu lado. Chamo-lhe Apus, como uma ave do paraíso que vive nas estrelas. 
Quando me sentir desvanecer permitirei que voe, apontando uma direcção, do passado ou do futuro e aceitarei esse ponto cardinal como a base da felicidade. 


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Atracar


Não há chuva que apague a memória do meu passado, não há dilúvio que esmoreça as cicatrizes do meu coração. Foi perfurado vezes sem conta, como se de uma guerra fria se tratasse, cheia de calorosos quase-começos e colossais finais sem justificação.
Encontro hoje a maior necessidade de acalmar o meu coração vulcânico e atracar, atracar num porto seguro, sem senãos ou períodos estimados para partir, de novo, rumo ao desconhecido. 
Faz frio, no meu coração, este que já sentiu brisas de Norte a Sul e tormentas do poente ao nascente. Admito que preciso de um fogo não-fátuo, que permaneça com vontade eterna nos meus braços sem causar desconforto. Preciso de uma fénix que me faça renascer e reviver tudo aquilo que tenho, de certa forma, perdido e que encontre tudo o que se tornou nada mais do que cinza e memória de um sentimento que não tem dado à costa.

No entanto, não há recomeço possível para uma história que nem sequer começou. Mas há a vontade de elevar a chama, quase extinta de encontrar o amor, simples e complicado, como os meus sentimentos.

Não me sinto só, simplesmente não me sinto. Não me sinto completo ou incompleto. Sinto apenas um frio, um leve sopro no coração que arrefece a cada dia que passa. No entanto continuo a navegar, em busca do único porto seguro que se esconde por aí, num mar cheio de tormentas e desilusão. Esse é o meu porto seguro, a minha ilha imaginária que ganhará forma, no corpo de outra pessoa.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Irreal

Nada poderia ser acrescentado ao passado, nada que faça sentido. Nada poderia trazer o passado até ao presente ou criar uma diferente aceitação. Aliás, o meu corpo rejeitaria tal coisa. Tudo o que outrora foi vivido fica lá, não esquecido mas entendido, suprimido e conseguido. Amores ditos eternos, amizades ditas perfeitas, sentimentos puros como as nuvens desfeitas no som do vento. Tudo fica no papiro ancião que já foi o papel principal na minha vida.


No entanto o som do virar da página prende essa outra página num local onde não quero voltar, numa página anterior que nunca será novamente consultada. Torna-se num murmúrio, o passado. Torna-se numa prova de que o eterno dito vezes sem conta nunca deveria ter sido dito uma única vez sequer. Os meus lábios nunca deviam ter sorrido ao som dessas palavras e o meu corpo deveria ter ficado hirto como se não aceitasse esse sinal de esperança e engano.


Não existe a eternidade. Não existem relações perfeitas ou amores intocáveis. Não existem emoções perfeitamente explicáveis. Não existe uma tempestade eterna ou um dia de sol que arda tanto como uma paixão. Não existem comparações justas. O "para sempre" é uma ilusão finita, uma expressão errónea que te leva a crer em algo que à partida acabará. Com tantas mentiras e enganos será que existe alguém realmente verdadeiro? E será que permanecerá verdadeiro "para sempre"?!




quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Confusão emocional

Em noites como estas não sei o que sentir. Esta falta de emoções assusta-me. À noite, apenas à noite, quando sou atacado pelos meus mais profundos pensamentos tenho medo. Fujo constantemente da realidade que me atormenta a estas horas, a solidão. Uma solidão tão profunda que até hoje não foi curada, é uma ferida aberta, exposta à escuridão.
Tenho vontade de me esconder, não do mundo, de mim. Tenho vontade de ficar isolado, sem luz, perdido nos meus pensamentos confusos e conturbados. 
Sou uma pessoa inacabada, e pensando em todo o meu passado sei que uma grande parte de mim nunca  foi completa. A busca para me conhecer nunca deu resultado, nunca percebi bem quem ou o que sou, o que quero ou o que pretendo de todos aqueles que se aproximam e afastam. 
Muitos chamariam a isto bipolaridade sentimental, confusão emocional ou até mesmo hipocrisia, mas é a verdade, crua e fria, como a minha alma e os meus pensamentos em noites como estas.
Não há estrelas, a lua escondeu-se, com medo de se cruzar com tantas incertezas. Sou um ser indefinido, em cinzas, hoje sem vontade de renascer, de reviver. 
Em ocasiões como estas,nada especiais e únicas tudo parece irrelevante. Quero ficar, mas não assim, quero construir, mas não desta forma. 
Quero ficar completo e perder-me eternamente, porque aí, quando não tiver revoltas emocionais como estas estarei completo. Não completo emocionalmente porque vou sempre querer mais de mim, mas completo porque estarei a completar outra pessoa. 
Em noites como estas não sei  o que sentir, não sei mesmo. E estou assustado. Mas sempre estive na realidade. 
Isto é uma história sem fim, "só querer viver" nunca fez sentido. 


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Imprevisibilidade



Há noites em que a mente toma conta de mim, o meu corpo prende-se aos pensamentos, envoltos em fumo e nevoeiro. Penso em apagar o meu passado, recomeçar como uma tábua rasa e esquecer os compromissos, encontrar um farol que me permita tomar um rumo. Entrego-me ao universo e tatuo nesses mesmos pensamentos um sinal de eternidade. Comprometo-me à solidão que geralmente é a minha melhor companhia, comprometo-me a manter-me fiel a tudo o que me faz feliz. 
O meu corpo treme, mas vai escrevendo, escrevendo tudo o que ainda não foi dito sobre mim. Não há muito para dizer, mas sinto que ainda tenho muito para descobrir. Por vezes sinto que não me conheço.

Mas quem sou eu? Não sei, e não sei porque abandonei a busca ainda antes de me lembrar que me procurei. 
Um emaranhado de definições surge. Definições demasiado pessoais para as poder publicar. A minha mente atraiçoa-me como se o meu próprio corpo se assustasse com os meus defeitos.
Sinto-me só, completamente só. E sinto-me bem. É o momento de me tentar descobrir, sem entraves. Vou deixar a curiosidade solta, questionar o que quero e possivelmente descobrir o que não quero. 

Neste momento a única certeza é que a imprevisibilidade me assusta. Nunca soube porquê. Talvez este medo diga mais sobre mim do que tudo o que penso, erroneamente, conhecer. 
Depois desta noite, levo em mim dúvidas, ainda mais dúvidas. O frio do meu coração esquece aquilo que já foi dito. O frio da minha mente esquece aquilo o que já foi sentido. Deveria ser ao contrário, sim, mas neste momento se nem eu me conheço, porquê pensar da mesma forma? E sentir da forma que até hoje senti?